"Um espaço reservado para falar das lembranças, histórias e episódios dos mais de 60 anos de Mil Milhas Brasileiras. E de outras coisas mais!"

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Trofeo Maserati: O início das categorias de supercarros no Brasil


Até 2004, as categorias de turismo no Brasil, em sua maioria, só haviam utilizado modelos populares (Brasileiro de Marcas e Pilotos) ou alguns sedãs mais requintados (Omega na Stock Car e os V8 da antiga Turismo 5000). Eram raras as exceções, e entre elas podemos citar a saudosa Pick-up Racing, que utilizava modelos S-10, Ranger, Dakota e posteriormente, Agrale Marruá (2007), em sua primeira fase (2001 - 2007).

Então, em 2003 foi anunciada a criação de uma categoria monomarca de carros esportivos, batizada de Trofeo Maserati, cuja organização ficou sob a responsabilidade do Maserati Club Corsa, cujo Diretor Esportivo na época era o tricampeão da Stock e ex-F1, Chico Serra. O modelo utilizado foi o Maserati Coupé, esportivo italiano lançado em 2001 e produzido até 2007. A ficha técnica resumida do bólido era a seguinte:

Motor:
8 cilindros em v a 90º
Peso do motor 184 kg (405 lbs)
Cilindrada total 4244cc
Taxa de compressão 11,1:1
Potência Máxima 413 cv
Regime de potência 7600 giros/min
Torque Máximo 460 nm (47 kgm)

Desempenho:
Velocidade máxima 285 km/h ( > 7600 giros/min)
Velocidade em marcha:
1ª - 72 km/h
2ª - 110 km/h
3ª - 147 km/h
4ª - 187 km/h
5ª - 230 km/h
6ª - 285 km/h
em mr - 93 km/h

Dimensões:
Comprimento: 4523 mm
Largura: 1822 mm
Altura: 1305 mm
Distância entre eixos: 2660 mm
Distância eixos dianteiro: 1525 mm
Distância eixos traseiros: 1538 mm
Peso a seco: 1370 kg
Capacidade Tanque: 100 litros

A categoria foi apresentada em um evento/demonstração realizado no Autódromo de Interlagos, no fim do mês de maio de 2004, sendo que inicialmente foram importadas 30 unidades do bólido, das quais 5 ficariam na reserva, tendo em vista que o grid era limitado em 25 carros. Na oportunidade, foi divulgado o seguinte calendário de provas:

1ª etapa - 04/07/2004 - Autódromo Internacional de Curitiba - Pinhais - PR
2ª etapa - 24/07/2004 - Autódromo Internacional José Carlos Pace - São Paulo - SP
3ª etapa - 08/08/2004 - Autódromo Internacional Nelson Piquet - Rio de Janeiro - RJ
4ª etapa - 29/08/2004 - Autódromo Internacional de Curitiba - Pinhais - PR
5ª etapa - 26/09/2004 - Autódromo Internacional Nelson Piquet - Rio de Janeiro - RJ
6ª etapa - 24/10/2004 - Autódromo Internacional José Carlos Pace - São Paulo - SP

Na prova de exibição, a vitória ficou com o jovem Orlando "Lico" Kaesemodel, que completou as 14 voltas da prova com a vantagem mínima de menos de 1 segundo para o experiente Paulo de Tarso Marques. Outros nomes importantes também fizeram parte daquele grid, como Wilson Fittipaldi Jr., Luiz Pereira, Nabil Khodair e Constantino Jr. Estavam presentes também Daniel Serra, que na época disputava a extinta Fórmula Renault Brasil, e Rafael Derani. Naquele mesmo ano, a categoria também atraiu a atenção de outros pilotos experientes, como Fábio Sotto Mayor e Antônio Hermann, que disputaram algumas provas. Ao fim do campeonato, o título ficou com Lico Kaesemodel (vencedor de 03 corridas), após disputa ferrenha com Paulo de Tarso, com direito a toques e entreveros entre os pilotos. Em virtude de algumas punições sofridas por Marques, o vice-campeonato ficou com Antônio Hermann. Um momento de grande destaque foi a última etapa, disputada como preliminar do GP Brasil de F1, a qual foi televisionada pela emissora oficial da F1 no Brasil, um grande marco na época, haja vista que as provas não tinham transmissão pela tv, e transmissão ao vivo pela internet era tema de ficção naquele tempo. Após o término da temporada, Kaesemodel passou a disputar a Stock Light, passando para a categoria principal em 2007. Na temporada de estreia, foram 24 pilotos brasileiros a disputar a categoria e 1 convidado, o italiano Carlo Romani, que ainda marcou 1 ponto.

Em 2005, outros pilotos de longa trajetória no automobilismo aderiram à categoria, tais como: Alencar Jr., Paulo Gomes, Eduardo Souza Ramos, Clemente Lunardi e João Adibe Marques. Ao todo, foram 23 pilotos que disputaram ao menos uma prova naquele ano. Na segunda temporada, o título ficou com João Adibe, que sagrou-se campeão na última etapa, com 03 vitórias, terminando com 6 pontos de vantagem para Alencar Jr., que também obteve 03 vitórias e voltava às pistas após 14 anos de aposentadoria. Cabe ressaltar também o feito obtido por Alencar, pois, ao final do campeonato brasileiro, foi disputado em Jacarepaguá o campeonato mundial, reunindo os campeões e vices do Brasil e da Europa, além de outros pilotos convidados, sendo que Alencar Jr. levou o título, após obter 02 segundos lugares nas 02 baterias disputadas.

Antes do início da temporada 2006, um exemplar Maserati Coupé disputou a Mil Milhas Brasileiras, sob o comando do trio Chico Longo/Daniel Serra/João Adibe. Entretanto, o modelo em questão tratava-se de um Coupé Light, que era 215 quilos mais leve e 17 cavalos (430 no total) mais potente que o Maserati Trofeo. Na classificação, a marca obtida foi de 1min41s762, suficiente para alcançar a 15ª posição. A corrida não foi tão longa, pois o Maserati completou apenas 101 voltas, tendo que abandonar a prova após a quebra da roda e suspensão traseira direita, causada pelo estouro do pneu. Ao fim, terminou na 25ª posição, num grid de 29 carros.

Em 2006, a categoria contou com o apoio da transmissão ao vivo da Rede TV, que transmitiu a 1ª e a última etapa ao vivo, sendo que as demais foram exibidas em VT nos fins de semana subsequentes às disputas, dentro do antigo programa ´Grid Motor´ do canal fechado SporTV. O calendário daquele ano foi o seguinte:

26 de Março -Interlagos (SP)
23 de Abril - Curitiba (PR)
07 de maio – Brasília/ DF
11 de Junho – Santa Cruz do Sul (RS)
30 de Julho - Londrina (PR)
27 de Agosto – Jacarepaguá (RJ)
17 de Setembro – Tarumã (RS)
22 de Outubro – Interlagos (como parte da programação do GP Brasil de F1)
26 de Novembro – Curitiba (anel externo)
17 de Dezembro – Interlagos (SP)

Algumas equipes tradicionais também participaram da categoria, tais como:

Action Power (Paulo de Tarso Marques)
Carrera Racing (Luís Carreira)
CRT Competições Esportivas
Hot Car Competições (Amadeu Rodrigues)
JF Racing (Jorge de Freitas)
Katalogo Racing (Fernando Parra)
Paioli Racing (Marcos Paioli)
Scuderia 111 (Carlos Chiarelli)

Neste ano, quem participou de algumas etapas foi o então Stock Car Guto Negrão, que das 08 corridas que participou, venceu 05. Mas o título terminou nas mãos do goiano Alencar Jr., que terminou o campeonato com a larga vantagem de mais de 100 pontos em relação a Rafael Derani.

Nos anos seguintes, foram campeões:

Renato Cattalini em 2007
Rafael Derani em 2008
Cléber Faria em 2009

É de grande importância destacar a participação das Maseratis na última edição da Mil Milhas, disputada em novembro de 2008. A Maserati nº 105, pilotada por Cleber Faria/Vanuê Faria/Leonardo Vital, terminou no 3º lugar, com 342 voltas, ou seja, 26 atrás do Porsche vencedor, já que foram completadas apenas 368 voltas por conta da limitação do tempo de corrida em 11 horas. Já as outras duas Maseratis enfrentaram vários problemas, que comprometeram o desempenho na prova:

nº 114 - pilotada pelo trio Pedro Queirolo/Marcelo Sant'Anna/Christian Del Rey, terminou na 22ª e penúltima posição, depois de ter completado somente 26 voltas.

nº 14 - pilotada por Valter Rosette/Rafael Derani/Clemente Lunardi/Fábio Greco, terminou na 9ª posição, com 283 voltas completadas, tendo abandonado após um acidente ocorrido no S do Senna.

Para 2010, a categoria das Maseratis uniu-se ao então forte campeonato de GT Brasil, onde os bólidos passaram a formar a categoria GT4, como forma de mantê-los em atividade. Com o tempo, a presença das Maseratis Coupé nas pistas foi diminuindo, pois há que se levar em conta que eram bólidos que disputavam provas desde 2004, além do fato de que era um modelo que já tinha saído de linha na Europa há um bom tempo, dando lugar para o Maserati GT, em meados de 2007. Até 2011 alguns Coupés ainda largavam no GT Brasil, sendo que até hoje ainda é possível ver alguns exemplares disputando provas de Endurance no Sul do Brasil.

Enfim, podemos considerar o Trofeo Maserati como a 1ª categoria de esportivos modernos, inaugurando a tendência de trazer carros GT para o Brasil, algo que teve seu ápice por volta de 2009 a 2012, e que infelizmente terminou após a polêmica final do campeonato GT Brasil daquele ano, disputada em Interlagos. Mas a verdade é que tanto o GT Brasil (final de 2007) como o Porsche GT3 Cup (2005), vieram no vácuo criado pelo Trofeo Maserati.













Nenhum comentário:

Postar um comentário